Suprelorin® é indicado como alternativa à castração cirúrgica de cães machos, levando esses animais à infertilidade de maneira reversível. Infertilidade é definida como a inabilidade de gerar descendência, sendo obtida quando a testosterona plasmática atinge níveis abaixo dos valores de referência, interrompendo a produção de espermatozoides nos testículos. Por reduzir a testosterona, Suprelorin® também é capaz de suprimir comportamentos relacionados à ação desse hormônio, tais como marcação urinária, monta, fuga atrás de fêmeas e reatividade por dominância
Suprelorin® deve ser aplicado em animais a partir dos 6 meses de idade, ou próximo ao período de maturidade sexual. Esse período depende de vários fatores como raça e porte do animal. As primeiras ejaculações não ocorrem antes dos 7 a 10 meses de idade e a capacidade reprodutiva ocorre, em média, entre os 8 meses (raças pequenas) até os 15 meses (raças de grande porte).
Nos cães machos, ocorre um pico de testosterona 1 hora após a aplicação do implante de Suprelorin® 4,7 mg. Esse pico é transitório, e começa a reduzir 4 horas após a aplicação. Clinicamente, alguns cães podem apresentar um aumento do comportamento relacionado à testosterona nesse período, o que tende a reduzir nos dias subsequentes. Esse pico de testosterona pós-implantação é conhecido como efeito flare-up, e tem correlação com o mecanismo de ação da deslorelina, que é um super agonista do receptor de GnRH (estimula, nas primeiras horas, a liberação das gonadotropinas pré-sintetizadas, inibindo posteriormente a síntese do LH e do FSH).
A única recomendação para essa fase é evitar o contato com fêmeas em período fértil por pelo menos 6 semanas após a aplicação do implante. Esse período mais longo, é recomendado porque espermatozoides viáveis ainda podem ser observados no lúmen dos túbulos seminíferos por 3 a 4 semanas após o decréscimo da testosterona plasmática.
A forma mais prática e acessível de monitorar o tratamento é por meio da dosagem sérica de testosterona. O limiar mínimo (valor de referência) da testosterona em cães é de 0,4 ng/mL. Níveis de testosterona abaixo desse valor tornam o animal infértil, ainda que métodos mais sensíveis de mensuração detectem a presença de testosterona. Dessa forma, para comprovar a eficácia de Suprelorin®, são considerados valores séricos de testosterona < 0,4 ng/mL.
Uma redução no tamanho dos testículos também é esperada durante o período de ação de Suprelorin®. Essa redução, embora não tenha total correlação com a eficácia clínica, é uma maneira prática pela qual os tutores podem observar a ação do implante.
A dosagem da testosterona plasmática, na maioria dos casos, é suficiente para um monitoramento da eficácia do produto. Em algumas situações muito raras, pode haver a suspeita de ineficácia do tratamento com Suprelorin®. Nesses casos, é possível propor a realização de um teste de estimulação de GnRH. Para esse teste, recomenda-se o uso de buserelina IV na dose de 0,4 mg/kg.
A interpretação do resultado do teste é feita da seguinte maneira:
Após o período de flare-up de 6 semanas (pico de testosterona que segue a implantação), o cão permanece infértil pelo período de 6 meses. Esse período pode, no entanto, variar dependendo principalmente do porte do animal. Durante os estudos clínicos, nos cães de pequeno porte (< 10 kg), os níveis de testosterona permaneceram baixos por mais de 12 meses após a administração do implante de 4,7 mg.
Já nos cães de grande porte (> 40 kg) existem poucas informações na literatura, porém nos estudos realizados o período de infertilidade foi semelhante ao observados nos cães de médio porte (6 meses), recomendando-se, nesses casos, um monitoramento mais sistemático.
Sim, a reimplantação é segura. A literatura mostra relatos de cães que receberam implantes subsequentes por muitos anos, sem efeitos colaterais que puderam ser diretamente correlacionados ao Suprelorin®.
Importante ressaltar que, caso o período de reimplantação seja respeitado (novos implantes a cada 6 meses), não se espera que ocorra um novo efeito flare-up.
Ocorre um retorno à fertilidade e à função reprodutiva normal do animal. Esse retorno não ocorre de maneira instantânea, uma vez que a espermatogênese no cão leva de 7 a 9 semanas para acontecer, após o retorno aos níveis normais de testosterona plasmática.
Em um estudo, todos os cães envolvidos apresentaram o retorno normal à produção de testosterona após o período de ação. Tal evento foi associado ao retorno do volume testicular e das características do esperma relacionados à fertilidade. Alguns desses cães foram colocados para reprodução e geraram ninhadas normais de filhotes.
Não. O implante é uma matriz lipídica e vai sendo naturalmente absorvido pelo organismo ao longo do período de ação. Porém, caso o veterinário julgue necessária, por qualquer razão, a remoção do implante, é possível realizar o procedimento cirurgicamente.
Sim. A metabolização da deslorelina gera fragmentos inativos e aminoácidos residuais, que são excretados na urina. O produto é seguro para animais hepatopatas e nefropatas.
Não existem contraindicações em cães machos adultos saudáveis. Não recomendamos a utilização em animais doentes, convalescentes ou que apresentem hipersensibilidade à substância ativa ou componentes da formulação.
Não se recomenda o uso de Suprelorin® em cães com criptorquidismo, devido ao risco de desenvolvimento de neoplasia que essa condição apresenta. Nessa situação, a remoção cirúrgica do testículo permanece sendo a recomendação mais adequada.
Não existe nenhuma evidência científica que mostre uma maior predisposição a neoplasias ao uso de Suprelorin®. Vale ressaltar que o produto é utilizado há mais de 15 anos na Europa e na Austrália.
Em contrapartida, existem trabalhos publicados que mostram uma maior prevalência de alguns tipos de neoplasias em cães castrados precocemente, tais como linfoma, osteossarcoma, mastocitoma e hemangiossarcoma. A hipótese mais aceita, é a de que o acúmulo do LH, pela ausência do feedback negativo da testosterona em animais castrados, possa contribuir para essa maior prevalência.
Não existem evidências científicas que atribuam maior prevalência de doenças endócrinas como hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo ou diabetes mellitus ao uso de Suprelorin®, no entanto, recomenda-se que cães diagnosticados e em tratamento para tais alterações sejam monitorados criteriosamente, especialmente durante a fase de flare-up.
No estudo de eficácia do produto, o ganho de peso foi avaliado comparando-se o grupo tratado e o grupo placebo, e não houve diferença estatística entre esses grupos ao final de 470 dias. No entanto, a redução da testosterona pode modificar o metabolismo basal em alguns casos, levando a uma necessidade de ajuste da dieta do cão.
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